Três homens num barco, de Jerome k. jerome

«Fomos buscar os mapas e discutimos os planos. Combinámos partir no sábado seguinte de Kingston. O Harris e eu íamos para lá de manhã e apanhávamos o barco para Chertsey, e o George — que não podia sair da City até à tarde (o George vai dormir para o Banco todos os dias das dez às quatro, excepto aos sábados, dia em que o acordam e o põem na rua às duas) — encontrava-se lá connosco.
Levantava-se a questão de saber se havíamos de “acampar ao ar livre” ou de dormir em albergues. O George e eu éramos a favor de dormir ao ar livre. Dissemos que seria aventureiro e livre, que teria um ar muito bucólico.
Lentamente, a memória dourada do sol morto esbate-se dos corações das tristes e frias nuvens. Silenciosos, como crianças chorosas, os pássaros pararam de cantar e só o grito lamentoso da galinhola e o crocitar rouco do codornizão perturbam o silêncio reverente que rodeia o manto de água onde o dia moribundo exala o último suspiro.
Dos bosques sombrios em ambas as margens, o exército fantasmático da Noite, as sombras cinzentas, avançam sem ruído perseguindo a retaguarda da luz que ainda perdura, e passam com pés silenciosos e invisíveis sobre as ervas ondulantes do rio e sobre os juncos que suspiram; e a Noite, no seu trono sombrio, estende as asas negras sobre o mundo que escurece e, no seu palácio fantasma, iluminado pelas pálidas estrelas, reina em silêncio.»



TRÊS HOMENS NUM BARCO (já para não falar do cão), de Jerome K. Jerome
Trad. Luísa Feijó

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