Grosso modo, de Jacinto Lucas Pires
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“Vamos ao cinema”, diz ela.
E aí, sim, riem-se os dois.
Berlim é um retângulo de luzes desfocadas. À janela do quarto de hotel, a mulher e o homem admiram a elegância com que o céu poisa no cimo dos prédios em frente. O homem-rapaz cheira a cigarro e sabonete e Sofia imagina que está dentro de uma história, a começar uma história nova. Que loucura, o que é que eu estou aqui a fazer? O americano pode muito bem matá-la se quiser. Tem uns olhos não bem azuis, afinal, acinzentados, e ela chama-lhe Pedro. “Peydroh?” diz ele.
Quem os filmasse do fundo do quarto não veria duas pessoas mas a silhueta de um monstro de quatro braços à procura dos bolsos que não tem para esconder as mãos.»
Grosso modo, de Jacinto Lucas Pires
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