Pode um desejo imenso, de Frederico Lourenço
«Subitamente, com um arrepio de felicidade, Christian ouviu, de dentro da sala, o som inconfundível do cravo de Nuno, que, como nos versos de Sófocles alusivos à lira —
uma voz branda de cordas beliscadas
habita este lugar:
audíveis são os fantasmas de som
que espalha como flores
sobre a terra
habita este lugar:
audíveis são os fantasmas de som
que espalha como flores
sobre a terra
— espalhava grinaldas de som argênteo num caleidoscópio sonoro de harmonias ibero-renascentistas. Christian voltou a inspirar o cheiro a algas exalado pelo Tejo. Num enlevo de felicidade redobrada, olhou mais uma vez para o rio e para a névoa de jacarandás em flor por baixo da varanda, salpicando a rua com um tapete de minúsculas flores lilazes.
Na sala, Nuno estava com uma expressão transfigurada: o aspecto angustiado dera lugar a um ar sereno, ligeiramente melancólico; mas era uma melancolia nobre, quinhentista. Tornara-se no espelho da música que estava a tocar.
Christian sentou-se para ouvir.»
Na sala, Nuno estava com uma expressão transfigurada: o aspecto angustiado dera lugar a um ar sereno, ligeiramente melancólico; mas era uma melancolia nobre, quinhentista. Tornara-se no espelho da música que estava a tocar.
Christian sentou-se para ouvir.»
Pode um desejo imenso, de Frederico Lourenço
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