Estética da Dança Clássica, de Frederico Lourenço

«Em torno do bailado clássico – uma das realizações cimeiras da arte ocidental – gira, ainda hoje, um vórtice de mal-entendidos. Destes, o mais errado de todos é a suposição, que muitos intelectuais perfilham, de se tratar de uma forma de expressão artística apenas veiculadora de kitsch museológico e, por isso, ultrapassada e há muito postergada para o plano da irrelevância estética pela multiplicidade de técnicas e expressões do corpo a que se convencionou chamar dança moderna. Certo é que, em Portugal, os nomes de Isadora Duncan, Merce Cunningham ou Pina Bausch serão mais familiares do que os nomes de George Balanchine, Frederick Ashton ou Christopher Wheeldon.
Porquê? Talvez em larga medida porque, entre nós, a dança clássica tem conhecido um destino a que não faltaram dificuldades. Não tendo sido no bailado clássico que o prestigiado Ballet Gulbenkian centrou as suas atenções, coube ao meritório projeto da Companhia Nacional de Bailado (a cuja estreia lisboeta assisti no Teatro Nacional de São Carlos, a 17 de dezembro de 1977) travar uma batalha solitária, na qual devemos salientar e enaltecer o extraordinário papel de Armando Jorge. Honra lhe seja feita: entre 1977 e 1992, enquanto diretor da Companhia Nacional de Bailado (CNB), Armando Jorge demonstrou ter uma visão clara, de rasgo internacional, daquilo que é o bailado clássico em toda a sua complexidade estética. Percebeu que a dança clássica, para não cair na vulgaridade ou (pior ainda) no piroso, está dependente da observação minuciosa de incontáveis preceitos de bom gosto, de mil subtilezas de que o público nem se apercebe, mas que são o próprio sopro de vida da dança clássica.»


Estética da Dança Clássica, de Frederico Lourenço

Os Sapatos Vermelhos (1948), Michael Powell e Emeric Pressburger

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