Poemas (Cantos de amores), de Tibulo

«Malvado Amor, oxalá eu veja quebradas as setas que são as tuas armas,
se isso é possível, e apagado o teu fogo!
Tu atormentas um desventurado, tu obrigas-me a invocar sobre mim
males terríveis e a dizer, de cabeça perdida, coisas nefandas.
Já teria posto fim à desgraça com a morte, mas, na sua ingenuidade,
a esperança acalenta a vida e diz que amanhã será sempre melhor;
a esperança alimenta o lavrador, a esperança confia aos sulcos dos arados
as sementes que com grande proveito o campo lhe há-de devolver;
é ela que apanha no laço os pássaros, é ela que apanha na linha o peixe,
quando o pequeno anzol se esconde atrás do isco;
a esperança dá conforto, até, a quem está acorrentado a pesadas cadeias:
as pernas ressoam no ferro, mas ele canta, em meio dos trabalhos;
a esperança promete-me uma Némesis dócil, mas ela rejeita;
ah, pobre de mim!, não hás-de vencer, ó mulher cruel, uma deusa.»


Poemas (Cantos de amores), de Tibulo
*Tradução de Carlos Ascenso André

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