Barco a seco, de Rubens Figueiredo

«Existe um limite para tudo. Não é medo, não é convenção. Pelo menos, não é só isso. Marcas invisíveis deslizam no chão, atravessam nosso caminho. Uma fronteira, um litoral, nem sabemos em que nossos pés tropeçam, nem imaginamos em que parede nosso ombro esbarra. Só um louco pode supor que o céu tem o tamanho dos seus olhos. Só uma criança pode acreditar que o mundo inteiro cabe no prato da sua fome.
Por isso não costumo nadar para longe. Não gosto de ver a faixa branca da praia se esconder muito tempo atrás das ondas. Aflige ver de repente as pessoas na areia transformadas em pequenos riscos de carvão. De longe, parecem quase imóveis. Sua vida não passa de uma sugestão, sublinhada às vezes pela corrida diagonal de algum adolescente.»

"Barco a seco", de Rubens Figueiredo
(Colecção Sabiá)
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Rubens Figueiredo (Rio de Janeiro, 1956), professor de Português e Tradução Literária e tradutor, crítico, contista e romancista, publicou nos Livros Cotovia Barco a seco (romance, 2001). Apesar do pudor do seu carácter, e de recusar tanto a aura romântica do escritor de génio como a aura fútil da fama, Rubens Figueiredo é figura de destaque no mundo literário brasileiro,o reconhecimento da sua obra confirma-se em 1999 com o importantíssimo Prémio Jabuti.
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«Rubens Figueiredo é um esteta. Com raro talento conduz Barco a Seco com a precisão de uma linguagem cirúrgica, que desvenda os abismos da alma humana, além de construir uma narrativa primorosa…»
Francisco Costa, O Estado de S. Paulo

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