Os rústicos, de Carlo Goldoni
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Maria João Almeida, no prefácio ao II volume de "Carlo Goldoni - Pelças escolhidas".
*Tradução da peça "Os rústicos" por José Peixoto
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«MARGARITA: Quem é que convidou?
LUNARDO: Pessoas distintas, entre as quais há dois que são casados e virão com as suas patroas, e estaremos todos em alegria.
LUCIETTA (à parte): Ainda bem, ainda bem, agrada-me. (Alegre, para Lunardo:) Querido senhor meu pai, então quem são?
LUNARDO: Senhora curiosa!
MARGARITA: Veja lá, meu velho, não quer que saibamos quem há-de vir?
LUNARDO: Querem que vos diga? Então lá vai. Virão o senhor Canciano Tartuffola, o senhor Maurizio da le Strope e o senhor Simon Maroele.
MARGARITA: Cos diabos! É acertar em cheio! Um ramalhete bem escolhido.
LUNARDO: O que é que quer dizer? Não são homens com tudo no sítio?
MARGARITA : Sim, senhor. Três selvagens como vós.
LUNARDO: Ah, senhora, hoje em dia, as coisas são como são, a um homem que tem juízo, chamam-lhe selvagem. E sabe porquê? Porque as mulheres são muito livres. Não se contentam com as coisas honestas. Agrada-vos as patuscadas, a balbúrdia, as modas, as palhaçadas, as criancices. Estar em casa é como estar na prisão. Se os vestidos não custam os olhos da cara, não são bonitos. Se não têm convívios, são tomadas de melancolia e não pensam em mais nada; não têm dois dedos de testa e só ouvem o que vos vem à cabeça, e não vos faz qualquer espécie ouvir o que se diz dessas casas, de tantas famílias que se arruínam. Quem vos acompanha é vítima de murmúrios, torna-se ridículo, e quem quer viver na sua casa com discrição, com seriedade, com reputação, as coisas são como são, é um desmancha-prazeres, um rústico, um selvagem. Estou a falar bem? Acha que estou a dizer a verdade?»
LUNARDO: Pessoas distintas, entre as quais há dois que são casados e virão com as suas patroas, e estaremos todos em alegria.
LUCIETTA (à parte): Ainda bem, ainda bem, agrada-me. (Alegre, para Lunardo:) Querido senhor meu pai, então quem são?
LUNARDO: Senhora curiosa!
MARGARITA: Veja lá, meu velho, não quer que saibamos quem há-de vir?
LUNARDO: Querem que vos diga? Então lá vai. Virão o senhor Canciano Tartuffola, o senhor Maurizio da le Strope e o senhor Simon Maroele.
MARGARITA: Cos diabos! É acertar em cheio! Um ramalhete bem escolhido.
LUNARDO: O que é que quer dizer? Não são homens com tudo no sítio?
MARGARITA : Sim, senhor. Três selvagens como vós.
LUNARDO: Ah, senhora, hoje em dia, as coisas são como são, a um homem que tem juízo, chamam-lhe selvagem. E sabe porquê? Porque as mulheres são muito livres. Não se contentam com as coisas honestas. Agrada-vos as patuscadas, a balbúrdia, as modas, as palhaçadas, as criancices. Estar em casa é como estar na prisão. Se os vestidos não custam os olhos da cara, não são bonitos. Se não têm convívios, são tomadas de melancolia e não pensam em mais nada; não têm dois dedos de testa e só ouvem o que vos vem à cabeça, e não vos faz qualquer espécie ouvir o que se diz dessas casas, de tantas famílias que se arruínam. Quem vos acompanha é vítima de murmúrios, torna-se ridículo, e quem quer viver na sua casa com discrição, com seriedade, com reputação, as coisas são como são, é um desmancha-prazeres, um rústico, um selvagem. Estou a falar bem? Acha que estou a dizer a verdade?»
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