Adotado adota quem o adopta

 O novo-velho Acordo Ortográfico (AO) é uma genuflexão linguístico-política deplorável, e, como quase todas as genuflexões, modos de súbditos mais do que prumo de república. Aliás, nem súbditos são assim tão subservientes, se olharmos para os de sua majestade, imaginando o que seria a capitulação perante termos anglo-americanos como o nome color, o particípio passado gotten ou a preposição mais igualitária with em talk with. Esta genuflexão é, em todo o caso, perfeitamente inconsequente se, a contrario daquilo que o AO de 1990 pretende, ou seja, a unificação de uma ortografia para a língua portuguesa, notarmos que se regista, ao invés, centenas, senão milhares de duplas grafias, novinhas em folha e resultantes deste acordo! Verifico, pois, que terei doravante de recorrer ao brasileiro para poder continuar a escrever em português. Uma contracepção não especialmente problemática que me fará linguisticamente miscigenado, uma espécie de United Colo(u)rs da língua portuguesa. E porque não assumir um gosto antigo e, por exemplo, escrever lingüisticamente, brandindo, assim, o trema que, esse sim, de algum jeito serviria e certamente muito mais encanto? Aliás, os meros 0,5% em que o Brasil claudicou perante Portugal são, a esse título, lamentáveis. Então, tremendo perante a ofensiva das debulhadoras lusas, não é que me vão alijar precisamente o trema nos grupos qüs e güs? Estou decepcionado. Esperava mais prumo do Ipiranga brasileiro. Em todo o caso irei tentar respeitar o novo acordo ortográfico sem prejuízo de escrever de quando em vez em brasileiro de Portugal para poder falar em português do Brasil. Assim, abrasileirarei em coisas como decepção, percepcionar e contracepção, como já fiz, de resto, questão de deixar bem claro acima. O meu contraceptivo contra este AO será, pois, falar em brasileiro do Brasil para parecer Português antigo de Portugal e ainda assim cair no goto dos portugueses de acordo com o Brasil.


Daniel Jonas

Comments

  1. a cor do horto gráfico é verde vegetal, cor de esperança num novo fruto (que este amadureceu apodrecido)

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