Sábado (e o segredo?)

 Terminado o ensaio da manhã (que foi bem bom), pelo calor explosivo deste Maio tão estúpido, lá fui até Alfama procurar o ISPA. Tinham-me avisado, havia uma exposição do Manuel, o filho dos meus amigos Gina e Mário Casimiro (ela, uma actriz inteligentíssima e amiga profunda, desde que nos conhecemos, em 1974, senhora admirável; ele, psicanalista com um humor que me encantava, conversador atento, que a injusta morte já nos roubou). O Manuel, que conheço era garoto, há quase quarenta anos, pinta e desenha desde menino, andou pelas aulas de desenho de Cecília Menano, no Claparède, na Clínica dos Cedros, anda agora na Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, onde continua a desenhar e a tecer. Gosta de pássaros, sabe todos os seus nomes, reconhece-os, pinta-os com intensidade e um elaborado sentido de composição. E agora expõe uns trabalhos, houve um professor do ISPA que os viu, lhe prometeu e cumpriu. Como ele deve gostar, vê-se, dos primeiros trabalhos de Paula Rego, aqueles cheios de imprevistas sobreposições, colagens, recortes. Como ele encontra para os seus pássaros o lugar do voo. Claro que a delicadeza cuidadosa da sua educação, a inteligência superior dos seus pais e dos amigos dos seus pais são aqui expostos, também, nestes vinte trabalhos comoventes, que estão na salinha (quem entra, à esquerda) do ISPA, lindo. Claro que esta exposição é uma justa homenagem àqueles (e não foram só os pais, houve amigos tão extraordinários) que diariamente conseguiram combater a doença, tão bonitos, tão.
E no folheto da exposição, vem um textinho dele, do Manuel Casimiro (*): “Naturalmente devo ter um segredo que não sei contar.”
É tão lindo,tão.
 
(*) Manuel Cortesão Casimiro/ não confundir com o pintor portuense













Jorge Silva Melo

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