Sábados

É bom, os Sábados. Manhã toda em casa, a trabalhar desde cedinho, sumos de fruta, um pão de ló que trouxe ontem do Porto, uma sestazinha daqui a nada. E depois, lá mais para a tarde, não sei se no meu  4L (ando preguiçoso) se a pé e de táxi, vou ver a exposição do Albuquerque Mendes na  Galeria Graça Brandão (cheio de curiosidade), e a exposição de desenhos do Manuel Baptista na Fundação Carmona e Costa, expectante ( voltarei lá daqui a uma semana, que há conversa com o José Gil, sempre é bom), fiquei tão entusiasmado com a que está no Museu da Electricidade (desenhos e esculturas, Fora de Escala, chama-se), eu, que julgava conhecer o Manuel de trás para a frente, tão íntimo com o meu tempo foi sendo o seu trabalho, tão amigo dos meus amigos (Fiama, Gastão, Cármen Gonzalez, todos no Monte Branco do Saldanha, 1960 e quantos?). É a revelação deste ano, não há dúvida. E vai colocar um problema na história da arte: de que ano são os trabalhos (que foram executados agora mas planeados nos sessenta e tais), como as esculturas de Ângelo, etc. Afinal, era o que estava na gaveta, no 25 de Abril, os trabalhos que os artistas não chegaram a fazer porque não havia dinheiro, entre bolsas e aulas que tinham para dar... Ainda vou tomar banho, e à tarde sair. Tarde de Sábado, que bom. E depois, ainda passo pelo teatro, para abraçar os actores de Um Homem Falido, tão bons, tão bem feito. No Instituto Francês, que belo espectáculo. Mas... não tenho cigarros, tenho de ir à mercearia antes que feche, acabou-se a literatura.


Jorge Silva Melo

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