Sábado, 3

                                       "Eugene Onegin" com encenação de Peter Kowitschny

Sentei-me, anoitecia, naquela esplanada da Rua Anchieta, junto ao Governo Civil, a tosta mista é descomunal e tristonha, pronto, peço mais água. E olho para o edifício morto, quartel, que, só agora, parece, irá acolher o museu do Chiado (ai, podia ter ido ver a exposição de Adelino Lyon de Castro, tinha pensado e tudo, esqueci-me). Agora, quer dizer, quando este governo acabar e se o próximo existir, há tantos anos que andam com essa promessa. E vejo, apagado, o Teatro de São Carlos (uma noite de Sábado em plena temporada, um teatro fechado, que desperdício...), esse enigma dispendioso. Como eu gostaria amanhã, domingo, de me sentar para uma matinée, ópera italiana, um Donizzetti, (há tanto tempo, tanto que não vejo!), um Bellini... até poderia ser um Ponchielli, coisas menores mesmo, mas era assim amanhã mesmo que eu me entregaria a essa volúpia, esse enredado de uma qualquer ópera. Mas não. Toda a gente disse mal da programação anterior (e com 95% de razão); mas a actual é o quê, que não a vejo? Pelo menos, em dois anos vimos dois espectáculos que não esquecerei, os que dirigiu o mais inteligente dos encenadores que agora assinam produções, Peter Konwitschny, uma extraordinária Bohème e um cansado (mas, ó!, quão límpido) Eugen Oneguin. Agora, não sei – nem nada se me afigura de bom, nem uma promessa. Amanhã será domingo, ficarei por casa e talvez me ponha a ouvir (mas é triste, aqui sozinho em casa, a ópera é bom para cumprimentar pessoas que não vemos normalmente...) Victoria de los Angeles. Ando com tais saudades do drama lírico... E este ano ainda não fui à ópera. E vivo numa cidade. Talvez me ponha a ouvir a Sutherland, sim, ando com saudades de Donizetti.


Jorge Silva Melo

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