Poemas (Cantos de amores), de Tibulo

Baco, de Caravaggio

























«Despeja vinho! Abafa com vinho puro estas últimas dores,
para que o sono tome conta dos olhos de um homem cansado,
e ninguém desperte quem foi quebrado pela abundância
de Baco, enquanto repousa um triste amor,
pois foi montada guarda severa à minha amada,
e está fechada a porta cruel com fortes trancas.
Porta de um senhor teimoso, que a chuva te flagele,
que os raios enviados por mando de Júpiter te atinjam.
Porta, abre-te logo, só para mim, vencida de meus queixumes,
e, ao abrires-te no rodar furtivo dos batentes, não faças barulho,
e, se alguma praga te rogou a minha loucura,
perdoa; que ela caia, eu o suplico, sobre minha cabeça!
A ti, fica bem lembrar quantas coisas desfiei em mil palavras
suplicantes, quando nos teus portais deixava grinaldas de flores.
E tu, também, não tenhas medo, ó Délia, de enganar o guarda;
há que ousar! Os valentes, ajuda-os a própria Vénus.
Ela favorece, quer o jovem que arrisca novos limiares,
quer a amada que mete a chave e abre a porta;
ela ensina a deslizar às escondidas para o aconchego do leito,
ela ensina a ser capaz de pousar os pés sem ruído,
ela ensina a trocar, diante do marido, acenos que dizem tudo
e a esconder palavras meigas em mensagens combinadas;
mas não ensina isto a todos; apenas àqueles a quem a preguiça
não retarda,

nem impede o medo de se levantarem na escuridão da noite.»

Poemas (Cantos de amores), de Tibulo
(trad. Carlos Ascenso André)

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