Os Devaneios do Caminhante Solitário, de Jean-Jacques Rousseau




«Eis-me sozinho na terra, sem irmão, parente próximo, amigo, ou companhia a não ser eu próprio. O mais sociável e o mais afectuoso dos homens foi proscrito da sociedade por um acordo unânime. No requinte do seu ódio, procuraram o tormento que fosse mais cruel para a minha alma sensível e quebraram violentamente todos os laços que a eles me ligavam. Eu teria amado os homens apesar do que são. Ao deixarem de o ser mais não fizeram do que furtar-se ao meu afecto. Ei-los, portanto, estrangeiros, desconhecidos, em suma, inexistentes para mim, já que assim o quiseram. Mas eu, desligado deles e de tudo, o que sou afinal? É o que me falta descobrir. (...)
Continuo a pensar que uma indigestão me atormenta, que tenho sonhos maus durante o sono e que vou acordar aliviado do meu sofrimento, entre os meus amigos. Sim, sem dar por isso, devo ter passado da vigília para o sono, ou antes, da vida para a morte.»


Os Devaneios do Caminhante Solitário, de Jean-Jacques Rousseau

(tradução: Henrique de Barros)

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