Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello

«DIRECTOR (levanta-se e olha-o com desdém): Então para si o nosso ofício é um ofício de loucos?
PAI: Claro, fazer o que não é verdadeiro parecer verdadeiro sem necessidade: como uma brincadeira. A sua função não é a de dar vida, em cena, a personagens imaginárias?
DIRECTOR (vivamente, faz-se o porta-voz da indignação crescente no grupo): Mas saiba, meu caro senhor, que a profissão de actor é uma das mais nobres do mundo! Se hoje em dia suas santidades os jovens autores não nos propõem mais do que peças estúpidas e marionetas em lugar de pessoas reais, ao menos nós ainda nos podemos orgulhar de ter dado vida — aqui mesmo, neste palco — a obras imortais!
[Os ACTORES, satisfeitos, aprovam e aplaudem o DIRECTOR.]
PAI (interrompendo incisivo e com ímpeto): Aí está! É isso mesmo! Pessoas vivas, mais vivas que as que respiram e usam roupas: menos reais, talvez, mas mais verdadeiras! Aí estamos de acordo.
[Os ACTORES, siderados, trocam olhares.]
DIRECTOR: Como? Então há bocado estava a dizer…
PAI: Não, senhor, permita-me: disse-lhe isso a si ao replicar-nos que não tinha tempo a perder com loucos, quando ninguém sabe melhor que o senhor que a natureza serve como um instrumento da imaginação humana a fim de perseguir a criação num plano mais elevado.
DIRECTOR: Seja. Mas aonde é que isso tudo nos leva?
PAI: A lado nenhum. Somente quero demonstrar-lhe que nascemos para a vida de muitas maneiras e de muitas formas:
como árvore ou pedra, como água, borboleta… ou como humano. Ou ainda até como personagem!»

Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello
(trad. Daniel Jonas)

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