Sábado (e Barcelona)


  Há cidades que a literatura ama mais, e Barcelona tem sido inventada, povoada, descrita, mitificada, celebrada, contada, lembrada por escritores imensos, por biografias de escritores, por pensamentos, desejos que vão do velho Barrio Chino de Genet ao Eixample dos maravilhosos poetas dos anos 50 e das suas extraordinárias casas de edição. Barcelona. E vou passar este Sábado, pelo Rossio, com autores que inventam agora um teatro para a Barcelona de hoje em dia, o grande Benet i Jornet (vamos ler Desejo), o jovem Pau Miro (vamos ler Chove em Barcelona), vamos andar entre sombras, ansiedades, pelo Raval ou pelas auto-estradas que levam os casais bem instalados para as suas residências secundárias. Vamos estar no Salão Nobre do Teatro Nacional lendo peças deles, bem bonitas, tivesse eu um teatro e estávamos a representá-las, actores, luzes, acções. E ao fim da tarde de Sábado, a maravilhosa peça de Lluisa Cunillé Barcelona Mapa de Sombras, encontros, desencontros, as Ramblas, os travestis, o público popular do Liceu, a memória da Callas cantando a Mimi. Agora que a Cotovia, em boníssima hora, edita Josep Pla, esse escritor feiticeiro, agora que volta a grande Rodoreda, vou passar o dia entre o Café Nicola e a Rua Eugénio dos Santos a lembrar-me da cidade de que o meu pai mais gostava, cidade dos escritores e de San Jordi, e lembrar-me de Carlos Barral e dos seus amigos poetas, tantos, Gil de Biedma, maravilhoso. E e Núria Espert. E do Molino, o cabaré do Paralelo...E todas as peças que vamos ler (e mais ainda) estão publicadas nos Livrinhos de Teatro. E quem teve a ideia deste fim de semana catalão foi a Sala Beckett, aquele teatro de Barcelona que poderia ter como divisa a maravilhosa frase de Dimitris Dimitríadis: “ a tarefa do escritor de teatro é agora, a de fazer habitar os palcos que Samuel Beckett esvaziou para sempre.”



 Jorge Silva Melo

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