MATA-BORRÃO
Ignorâncias cruzadas Falava ao telefone com uma criança que, pela voz, parecia andar nos 30. Pergunto-lhe o que fazer para recuperar a password. Utilizo o verbo, a medo. Será recuperar? Também posso dizer que a antiga expirou, é o que ouço aos entendidos, a esse conjunto imenso de pessoas que sabem o que não sei. No entanto, expirar deveria usar-se em relação ao destino que o Novo Acordo deu a letras e a hífens e a acentos. E prefiro senha a password , mas sinto-me chegada das cavernas, ainda antes da fundição do metal. Este receio miudinho e acabrunhante lembrou-me uma história de uma amiga, essa sim, verdadeiro símbolo da info-exclusão, a quem disseram para pôr um documento numa pen, coisa que lhe pôs os olhos a sair das pálpebras, a que propósito um pénis com documentação. Depois de ter explicado (mal) o que tinha acontecido à dita, o meu interlocutor, prontificou-se a substituí-la. Posso ditar? Faz favor. Eu, o lápis, o papel, atenção redobrada, quase trémula. Asia